Julho das Pretas: entenda a data e como fortalecer mulheres negras na sua empresa
Há 32 anos, o mês de Julho ganhou um novo significado e data comemorativa de grande relevância: o Dia Internacional da Mulher Negra Afro Latina Americana e Caribenha, celebrado no dia 25 de julho. Já em 2013 nascia o movimento #JulhoDasPretas. Mas você sabe do que se trata essa data e como ela influencia a sua empresa?
Neste artigo explicaremos mais sobre as origens do Julho das Pretas e como essa celebração tão importante pode apoiar você e sua empresa na jornada de Diversidade e Inclusão.
O que é o Julho das Pretas?
No ano de 1992, a ONU declarou o dia 25 de julho como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. A data ganhou mais relevância a partir de 2014, com a Lei 12.987 que também tornou o dia 25 o Dia Nacional de Tereza de Benguela.
Mais adiante no conteúdo contaremos quem foi Tereza e por que sua figura é tão importante para o movimento de mulheres negras.
Entretanto, essa movimentação legislativa veio um pouco depois da criação do Julho das Pretas pelo Odara — Instituto da Mulher Negra, aqui no Brasil.
O grande objetivo do Julho das Pretas é colocar a luta das mulheres negras como centro do debate, considerando suas interseccionalidades para a superação das desigualdades de gênero e raça.
Muito mais do que uma hashtag, o Julho das Pretas é uma ação política, que propõe uma agenda conjunta entre diversas organizações e o movimento de mulheres negras do Brasil.
Segundo o Odara, "o Julho das Pretas todos os anos traz temas importantes e necessários relacionados à superação das desigualdades de gênero e raça, colocando a pauta e agenda política das mulheres negras em evidência".
A proposta é que se tenha todo o mês de Julho como espaço para colocar esses debates em evidência, nos espaços de trabalho e também para a sociedade civil.
Quem foi Tereza de Benguela?
Décadas atrás, o dia 25 de Julho foi internacionalmente decretado como o Dia da Mulher Negra Afro Latina Americana e Caribenha. Em 2014, no Brasil, a data passou a ser compartilhada com o Dia de Tereza de Benguela, figura importantíssima para o movimento nacional de mulheres negras.
Ela foi líder e rainha do Quilombo Quariterê, que ficava localizado próximo ao rio Guaporé e o local onde hoje fica a cidade de Cuiabá, no Mato Grosso. Tereza resistiu à escravização por duas décadas no século 18, sendo uma personalidade central na luta da comunidade negra e indígena da região.
Ainda que seu quilombo tenha sido destruído em 1770, a luta, resistência e liderança de Tereza continuam vivas não somente no calendário.
Elas permanecem dentro de cada mulher negra brasileira que ainda precisa enfrentar as consequências da escravização mesmo após mais de 135 anos de sua abolição.
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Por que precisamos de um #JulhoDasPretas?
Quando falamos em equidade de gênero, é essencial que olhemos para essa pauta com uma abordagem interseccional. Mulheres negras são o maior grupo demográfico brasileiro e, ainda assim, recebem apenas 48% do salário de um homem branco.
Segundo dados da FGV, 90% das mães solo brasileiras são negras e somente 9% delas possui ensino superior. O Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar publicado em 2022 também apontou o número alarmante de que 64% dos lares chefiados por mulheres negras estavam na pobreza.
Em 2020, somente 6,6% dos cargos de liderança no Brasil eram ocupados por mulheres negras. Em comparação, 39% dessas posições é de homens brancos e 31% delas é de mulheres brancas.
Algumas das perguntas que ficam depois de olharmos para esses números são: o que podemos fazer para reverter esse cenário, especialmente no mercado de trabalho?
O que a sua empresa está fazendo para ser um ambiente que acolhe e desenvolve mulheres negras para que mudar esses dados?
Qual o papel da sua empresa na inclusão de mulheres negras?
Quando falamos em ampliar as possibilidades de mulheres pretas, é impossível deixar o trabalho de fora dessa equação. É através de oportunidades melhores que o acesso a condições dignas de vida se torna possível para qualquer grupo minorizado, incluindo mulheres negras.
O relatório produzido pelo Indique Uma Preta apontou quatro principais barreiras que bloqueiam o avanço de mulheres negras em suas carreiras. Elas são:
- Formação e qualificação;
- Conexão e acesso;
- Diversidade genérica;
- Medo de errar.
É necessário olhar para mulheres negras para além das lentes da vulnerabilidade. Em 2019, elas representam o maior grupo presente nas universidades públicas, segundo a PNAD. Ainda assim, persiste o mito de que elas não são profissionais qualificadas.
Invista em desenvolvimento e mentoria
Um dos caminhos possíveis para fomentar o avanço de mulheres negras no trabalho é não considerar somente a contratação. É claro que políticas de inclusão em processos seletivos são parte importante do processo, mas é necessário pensar além.
Segundo dados da pesquisa realizada pelo Indique Uma Preta, em 2020, 37% das entrevistadas estavam insatisfeitas com as oportunidades de crescimento em seus cargos.
Programas de desenvolvimento e mentoria para mulheres negras são alternativas que sua empresa pode usar para prepará-las para essa ascensão na carreira.
Ainda nesse artigo compartilharemos alguns casos bem sucedidos de empresas que investiram em desenvolver mulheres negras para você se inspirar.
Prepare pessoas para serem aliadas e líderes inclusivas
Para que a inclusão seja verdadeira e duradora, ela precisa se tornar parte da cultura da empresa.
Isso significa que é necessário preparar as pessoas colaboradoras para se importarem com a pauta de DEI e serem aliadas de mulheres negras nos espaços de trabalho.
Instituições renomadas divulgaram dados que apontam a importância da figura aliada no espaço de trabalho.
A pesquisa da Empovia sinalizou que, quando há uma pessoa aliada no local de trabalho, grupos minorizados (que incluem mulheres negras) têm:
- 1,5 vezes mais probabilidade de sentirem segurança
- 50% menos chance de pedirem demissão
- Sentem-se 56% mais empenhados e empenhadas com o trabalho
- 167% mais probabilidade de recomendarem a empresa a outras pessoas
Preparar as lideranças para saber como gerenciar grupos diversos é outro passo importante na jornada para apoiar mulheres negras na empresa.
Uma liderança inclusiva não reproduzirá vieses inconscientes e estereótipos em avaliações de desempenho, por exemplo. Para mulheres negras, o vieses mais comuns que bloqueiam seu avanço são o de serem raivosas, reativas e pouco qualificadas para promoções.
Além disso, líderes que praticam uma gestão inclusiva nutrem a segurança psicológica em suas equipes, fator já apontado pelo Google como o mais importante para obter alta performance nos times.
Exemplos para se inspirar
Dar o primeiro passo para ter mais Diversidade e Inclusão pensando em mulheres negras pode parecer desafiador e complexo. Por isso trouxemos a seguir alguns exemplos de sucesso realizados em algumas empresas para inspirar você a iniciar essa jornada na sua organização.
GPA e ImpulsoBeta
A ImpulsoBeta teve a oportunidade de apoiar o Grupo Pão de Açúcar na criação do seu Programa de Desenvolvimento para Mulheres Negras.
O projeto teve como missão avançar na equidade racial e de gênero, fomentando a participação ativa das mulheres negras na construção de uma jornada sustentável e próspera, no trabalho e na vida. Ele contou com a participação de 68 mulheres negras e contabilizou 12 horas de capacitação em 10 encontros.
Outras iniciativas para prestar atenção
Outras ações que acreditamos que vale a pena citar incluem o Programa de Aceleração de Carreiras para Mulheres Negras da Vale, direcionado para mulheres que não são colaboradoras e que tem duração de 5 meses.
Ele visa acelerar o desenvolvimento profissional de mulheres negras, capacitando-as com competências e habilidades para se destacarem no mercado de trabalho, em diversas áreas e posições.
A Votorantim também realizou um Programa de Mentoria para Mulheres Negras que capacitou 26 mulheres em sua primeira edição. Ao longo de 8 meses de programa, 30% das mulheres mentoreadas alcançaram promoções.
O Julho das Pretas é um movimento que surgiu da necessidade de reivindicação e luta de mulheres negras por equidade de direitos e que se faz necessário ainda hoje.
É papel da sociedade civil e das empresas caminhar com elas nessa jornada para diminuir as desigualdades e construir um mundo mais inclusivo justo e próspero. O que sua organização está fazendo para atingir esse objetivo?
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